12 de fevereiro de 2009

A vida comum e seus exageros cotidianos

Em meio a tapas, socos e chutes, ela pensava na casa em que morava quando criança. Era um lugar bem roça mesmo, sabe? Simples, mas tranquilo. Sua família era carinhosa e ela era menina de pés no chão vermelho. Nunca teve requintes, mas vivia bem. Pelo menos, não passava pela sua cabeça reclamar. E hoje, sentindo tanta dor, ela pensava mesmo era em agradecer a Deus pela criança que foi. E antes de desmaiar, se lamentou: sua infância não a ajudou a ser uma adulta vitoriosa. Por enquanto ela não sabe, mas não vai acordar naquele quarto pequeno. Talvez será em uma rua mesmo. O morador do lugar, dono de um braço forte e daquele corpo nu sobre um corpo inérte, ainda não tinha pensado onde coloca-la. Na verdade, ele nem esperava que ela desmaiasse, talvez tenha exagerado na força. Pelo menos não teria que pagar.

No andar de cima, uma mocinha, com seus típicos 15 anos, comemorava aos gritos. Finalmente recebeu o telefonema que tanto esperou. Seu coração parecia que ia pular pela boca. A conversa foi simples. Até um pouco seca. É que seu nervosismo não ajudou muito. Mas parece que ele gostou. Gostou, não é verdade? Vão se encontrar novamente. E ela colocará sua melhor roupa, ao som da sua cantora preferida. Um cabelo descolado e pouco perfume. É que ela já tinha se informado: ele não gosta de exageros.

No primeiro andar uma senhora dormia serenamente. Ultimamente era o que mais fazia. Nessa idade avançada, não entende muito a televisão e nem tem paciência para isso. Viúva e sozinha. Não por opção, veja bem, é que os filhos cairam no mundo e não cuidam da velha. Ela vive com o pouco que a aposentadoria oferecia. Mas já está muito difícil, sem ninguém para ajudar com as compras, por exemplo. Mas não reclama, afinal viveu tanto. Acabou de acordar, está na hora dos remédios. Sofria com as dores e olha que ela nunca foi de exagerar no que sentia!

3 comentários:

Mila disse...

SIMIRIZINHA, nossa pequena notável amiga! rsrsrs...

Ótimo texto! Mas... estive pensando... em qual das suas três personagens as Rutílicas se encaixam?

Bjinhos!

May Horta disse...

Sem exagerar nos elogios, seu texto (mais uma vez) ficou fantástico!
Mamara escreve tão bem!*-*

Yasminne disse...

Me fez pensar...
Três fazes diferentes, mas com três pedidos iguais... uma vida plena, só isso.
Gostei.

Muuito bom. [=

Um beeijo!