18 de dezembro de 2008

Detalhes

Sentado no costumeiro banco da costumeira praça, ele observava os pombos. Bem típico de um homem daquele tipo, sem grandes objetivos na vida. Nao se sentia sozinho, longe disso. Para ele as coisas já estavam acontecidas e o tempo não o ajudara nessa questão: tudo o que foi feito passou e não tem mais como mudar. É assim que deve pensar um homem daquele tipo.

Pois parado ali ele, que nunca se considerou nostalgico, agora se lembrava de algumas das coisas que passam e não podem ser mudadas.

Lembrou-se dela e da única vez que saíram juntos. Ele era bem mais jovem. Época em que seus cabelos ainda eram negros, bem negros, e ele não usava óculos. É certo que era um rapaz garboso, como costumavam dizer, mas tímido, coitado. Não conseguia se dar bem com as mulheres. Embora não concordasse, as pessoas o achavam muito perfeccionista. Ora! Mas que engano, nunca foi perfeccionista, essa é a verdade.

Mas sempre que se lembrava dela, sentia algo estranho. Arrependimento? Não, imagine! De qualquer maneira, nem era um sentimento importante. Pelo menos é assim que ele achava.

Sobre ela, suas lembranças eram bem nítidas. Uma mulher tão diferente dele. Um ser que era pura atitude e usava um vestido preto de-co-ta-do! Cruzava e descruzava as pernas e inibia ele, ainda rapaz. Os cabelos soltos e o perfume forte que declarava: sou uma mulher ousada. Antes que ele pensasse em chamar o garçom, ela levantou o braço, muito branco por sinal, e o chamou. Ele se assustava a cada gesto. Onde já se viu, mulher daquela época não chamava o garçom! Era gulosa de informação e não parava de falar. Observando aquela linda mulher, notou que era perfeita. Perfeita, se não fosse por um detalhe, roia as unhas. Ela falava com aquela voz rouca e ele olhava para suas mãos. "Ah! A comida chegou! Ouvi falar que a comida daqui é ótima! Você está me ouvindo?". Estava, estava ouvindo, mas vendo também. Ela levou as mãos aos talheres e ele seguiu as dez unhas pequenas e comidas.

-Tchau! Adorei tudo!
Despediu-se ela, com um ousado beijo no pescoço dele.

-Er... foi bom.
Disse ele, esquecendo-se de ficar vermelho e vendo as mãos dela segurando a bolsa.

-Então, posso te ligar?

-O que?

-Posso te ligar?

-Deixa que eu te ligo...

Ele nunca ligou. Não sabe bem o porque, mas nunca ligou.

2 comentários:

Mila disse...

Engraçado como as vezes deixamos de agir da forma que realmente queremos e deixamos passar tanta coisa especial em nossas vidas... Lendo esse texto, fiquei me lembrando de cada momento que deixei passar... Depois de tanto agir assim, acho que me tornei uma pessoa mais decidida. Quando eu quero, quero e pronto! Não meço esforços! As vezes até me assusto comigo mesma...

Unknown disse...

devia ter ligado...como uma vez, eu liguei e levei um toco. Mas esssas coisas passam e servem pra rir depois! =~)
eduardo grande como será? nao sei, deixa ele com seus 8 anos e os seus misterios.
beiiijooo tata!